- Dra. Cláudia Klein
Singela homenagem aos que salvam vidas
Era tarde da noite, meu primeiro plantão como (quase) médica no sexto ano da faculdade de medicina.
Sentia um misto de medo, apreensão e emoção, afinal de contas, eu ia salvar vidas!
Tínhamos uma visão romântica da vida, própria da juventude...
Ser médico era como ser um Deus: a vida estava ali nas nossas mãos, pronta para ser recriada!
Então ouço:
- Doutora, pelo amor de Deus, meu filho não respira há 20 min!!!
Olhei no fundo da alma do desespero daquela mãe, e então entendi ali que, ser Deus, não ia ser nada fácil.
Voltei em mim e entendi que a “doutora” naquele momento era eu.
Estávamos na linha de frente da porta da emergência do hospital público. Digo “linha de frente” porque depois troquei minha visão romanceada e entendi que estávamos em um fronte de guerra.
Começam os procedimentos de ressuscitação cardio pulmonar.
Era um menino de 12 anos apenas, com toda juventude ao seu alcance...
- Claudia, rápido, pegue o respirador!!!!
Olho desesperada!
São 3 respiradores na emergência:
O primeiro estava com um policial baleado no tórax;
O segundo, com uma criança que caiu de um barranco e tinha sido diagnosticada com traumatismo crânio encefálico;
E o terceiro, com um senhor idoso com provável AVC - digo “provável” porque ele aguardava há dias no PS por vaga na UTI e necessitava ir a outro hospital porque, como de costume, nosso tomógrafo estava quebrado.
Não tinha respirador para o menino.
Não tinha vaga na UTI.
Não tinha como transferi-lo e não tinha ambulância no momento.
Ficamos ambuzando da 1h da madrugada até as 7h, quando ele faleceu. Até hoje tenho pesadelos com o olhar daquela mãe. Até hoje tenho minha história lincada com aquele menino que não recebeu assistência.
Podia ter sido o meu filho, seu filho, filho de todos nós!
Passamos quase 7 horas nos revezando e fazendo massagem manual... mas nada.
Claro que já perdi muitos pacientes; faz parte desse processo chamado vida. Mas perder pacientes por falta de atendimento adequado é o fim de tudo aquilo que aprendemos e para o qual dedicamos grande parte das nossas vidas.
E eu achava que ser Deus era muito importante pra mim, porque poderia reestabelecer a vida de alguém; porém tive que aprender a decidir quem ia viver e quem ia morrer frente aos mínimos recursos que tínhamos pra trabalhar. Dura lição!
Agradeço, com toda minha força, meus amigos, colegas e companheiros que foram comigo heróis, anjos e, principalmente, humanos.
Ser médico é ter que ser supra-humano, sendo apenas um simples ser humano!
Todo meu amor e carinho vão para meus queridos colegas e amigos de uma jornada difícil.
E isso foi só o começo.
Dra Claudia Klein,
Médica neurologista.
Agradeço meus colegas de internato com quem pude dividir meus medos, minhas angustias minhas dores e minhas alegrias, pois sim, foram muitas alegrias!
Paulo Augusto Vichi Jr
Potiguara Novazzi
Gabriela Zuskin
Sonia Rego
Patricia Viviani De Oliveira Pessoa Moniz
Patricia Colussi Carneiro Gomez
Silmara Friolani
Nancy Monteiro
Kátia Teixeira
Denise Piccioli
Alberto Luis
Alessandra Watase del Claro
Alexander Guilherme
Jairo Iavelberg
Claudia Leitao
Graziela Salaroli Cordeiro
Omar Assae
Marcelo Mônaco
Fábio Piccoli
San Santos
Maria Dandrea Chamelian
Fer Nando
Renata Rodrigues Aniceto
Daniele Piai Ozores Carvalho
Cintia Fernandes